Todos devem estar surpreendidos com esta água límpida e transparente do Canal de Marapendi. Será que a pandemia tem algo a ver com isso? Infelizmente não. Nosso Vice-Presidente, David Zee, explica o por que desse fenômeno.
David Zee
O que aconteceu foi uma obra da divina natureza que novamente nos beneficiou. A razão se deve a sobreposição de 3 fatores que proporcionaram uma entrada extraordinária da água do mar nas lagoas e canal de Marapendi.
O primeiro fator foi a força da maré astronômica, governado pela atração gravitacional da Lua e do Sol, que proporciona uma flutuação do nível do mar da ordem de 1m(amplitude).
O segundo fator foi à maré meteorológica provocada pela passagem de uma frente fria muito próxima ao litoral fluminense cujos ventos fortes sopraram contra a linha de costa. Os ventos empurrando as águas superficiais do mar provocaram uma sobrelevação do nível da água do mar da ordem de 1,5m.
O terceiro fator foi a agitação da água do mar fazendo entrar ondas de até 3 metros de altura. A soma destes 3 fatores formou uma parede d’agua de aproximadamente 3 metros de altura entrada do quebramar, na praia da Barra. Naturalmente que esta onda de maré extraordinária teve força suficiente para empurrar as águas contaminadas do interior e adentrar pela Joatinga. Seu caminho estaria aberto até o arquipélago da Gigoga que dificultam a sua livre entrada e avançar até a Lagoa da Tijuca que se encontra muito assoreada de resíduos urbanos.
A repentina perda de profundidade e o estrangulamento provoca uma resistência contra a progressão da onda de maré que naturalmente procura outros caminhos para sua progressão. Pois pouco antes da abertura para a Lagoa da Tijuca se encontra a entrada do Canal de Marapendi que apesar de estreita tem mais profundidade que a Lagoa da Tijuca. Então lá seria outro caminho mais oportuno para o avanço das águas limpas do mar trazendo peixes e salinidade para tratar a contaminação da lagoa e canal de Marapendi.
A força do mar limpou o nosso canal e tenta fazer o mesmo na lagoa. Se nos últimos anos estamos percebendo que isso ocorre com mais frequência é devido à intensificação das ressacas como também do progressivo “entupimento” da Lagoa da Tijuca. A continuar este derrame de lixo e esgotos na Lagoa da Tijuca em menos de 15 anos, ouso afirmar, que ela enfarta e morre definitivamente.
Para quem tem a sorte de residir às margens do canal e lagoa de Marapendi, que nos últimos 10 anos conseguiu estancar a totalidade do lixo e grande parte do esgoto fugitivo/clandestino (ainda existe a contaminação proveniente do Jardim Oceânico e Tijucamar), o mar ainda consegue adentrar pelo canal e renovar suas águas. Contribuiu ainda para isso a falta de vontade política do poder público em evitar o contínuo assoreamento da Lagoa da Tijuca que impede o avanço das águas limpas do mar e provoca o desvio das águas limpas do mar para o canal de Marapendi.
Como efeito colateral positivo do Convid-19, a reclusão da prudência nos deu oportunidade de frear a pressa do dia a dia e nos deu oportunidade de refletir. Desta reflexão, talvez possamos tirar a seguintes conclusões:
- Esta pandemia não será a ultima, sempre haverão novos desafios;
- A vacina só ataca a consequência (doença) e não a causa (comportamento humano);
- O coletivo não é apenas humano, mas também considera o planeta;
- Se pararmos de sujar as lagoas, a natureza se recupera sozinha.